domingo, 30 de dezembro de 2007
Mutação
A mutação de uma flor, que transformada cria assas , cria sons e tons da água.
A mutação de um ser que cria ouvidos nos olhos e olhos nos ouvidos. Transfiguração do ser que se recria. E o que será essa mutação aqui, agora em mim?
Sinto um leve soco do vento no meu rosto. E todas essas buzinas e berros dos passageiros nas ruas, passageiros do tempo ou sei lá do que. E aqui parece que o tempo mudou por completo ou eu estou louca, ou as horas estão correndo de mim, e toda vez que eu olho pro relógio ele me encara e diz – To te roubando, mais uma, te roubando!
Hoje, uma moça passou ao meu lado na rua, comentava que à noite passada um cafajeste lhe roubou a carteira... Sorte a dela, e eu que sinto a todo momento, alguém não importa quem, as vezes o farol , o banco, as calçadas até mesmo o relógio do meu bolso; mas sempre aquele murro no fígado e algo que me sussurra aos ouvidos –você esta atrasada...Me rouba,o tempo.
Esse cinza rodopiando em mim, droga de alucinações! Premonições que parecem vir de outro mundo. Só me faz ficar mais lúcida de que se esgotam minhas horas. Quem dera tivesse recebido uma carta avisando-me das minhas poucas horas, uma semana antes que fosse –melhor, melhor, tivesse recebido logo que nasci. Essa incerteza passar não precisaria.
Porra! Fui adestrada pr´acompanhar os ponteiros, e eles agora querem me sufocar? Vá pra merda. - Sê quê corre, me chuta na bunda, faze minha cara lambe o chão? Vamo vê então...
Você ainda continua me olhando( relógio), quê me come pelos olhos é? Quê?... Quê?... Não adianta não.
Todos meus 20 e poucos anos vividos , corri sim, fiz tudo que você quis, ia lambendo toda hora que você me apertava. De tanto corre, corre, correr atuou. To tonta, embriagada com o tictatear dos ponteiros, nocauteada pelo passar do instante. Mas basta.
Olha bem, ó...Pode-se prender alguém por quase toda sua vida, ate mesmo pela vida inteira. Pode-se sim , ate o momento que as facas conseguirem ir cortando, cortando, perfurando; ate o momento em que elas não forem quebradas, entortarem na carne que repele e explode o metal acido que lhe fere... O tempo pode passar e nem perpassar por mim o tempo pode me come sem que eu me alimente. O tempo pode me matar sem que ,(droga droga droga), tenha vivido. Merda! Que estou fazendo aqui olhando, falando para um espelho. Mas uma vez esse gosto salgado das lágrimas, das lágrimas amargas, fardas. Aaaa vem cá, vem... – ixii, já to bêbada , bem que a porra do meu marido dizia “ – O bom é que mulher quando bebe faz sexo e não amor a bosta é, ou se lamenta e chora, e chora ”Canalha,preconceituoso , idiota!... Ah, não consigo mais uma vez segurar o passado distante e imaculado de mim...talvez ainda viva nele e corra atrás como um rato faminto?
Não, não. Eu não quero procurar um fim, e muito menos saber do próximo instante. O fim começa no agora, em cada.
terça-feira, 25 de dezembro de 2007
Escorrendo
Preciso dizer. Escorrer como sangue, como gota de saliva quente e efevercente. Febre de dentro,de fora holocausto claustrofóbico. Doentia toda qualquer forma que em mim se apresenta. Nuvem que a principio suja entre as outras leve-molente. Assim. Volta febril com toda fome jorrando do seio da incapacidade de parar no pensar. Uma linha. Coisa livre, forma não, não tem.
Será possível. O que suporta a dor quando estrala em si para... para o que? O todo, e todo lá existe... Ah, pensar em todo, na firmeza que constroe reta tonta, tremula como mola virgem e velha voltada ao espelho nua escorrendo óleo, graxa e sangue por entre seus seios vistosos novos e gordos, firme da sua sexualidade de sua vida. Firme crua.
Quero lá saber de amor?! Bicho ou troço-espécie que aparece repleto de cascas finas, delicadas e ásperas. –ah, são tantas casquinhas que todas não podem. É chuva pode bela e múltipla, é chuva que pode ser nada, apenas atraso ou dura perda do momento. – E mais uma perda, sinto que morro.
E penso em palavra que diga, que diga o que? Sei não, queria apenas. Como a palavra teima em nós ser uma tentativa frustrada de que há de se comunicar, só não pode. Mas cresce e quase sempre segura e cega. Assim pelo menos a mínima similaridade com o amor. Cego, cega. Tentar ver, sim, pois sim. Ver sempre há de se querer, tolo. Sentir, sentir belo e claro a sensação. A afronta que rasga o vidro , soca o vidro só pra furar, pra tentar nascer.Em horas confusas, ah sim, brotar lisa confusa e imperceptível ao diálogo proposto. Identificação que fica no quase, num quase. O quase que quase sempre parece o clímax do acaso. Pensar que exista o clímax do invisível, é fazer invisível o gozo possível existente e que abre suas pernas quentes e esguias, duas pernas de cadeiras num quarto vazio.
E fico aqui. Acabo nas minhas linhas de letras tortas e tontas.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
Linha
Deter o foco. Alienar-me de tudo mais que existe.
Sabe. Lembra um algo muito gracioso, bonito e leve como... Sim, sim, a infância. Traçar linhas “repetidas” e totalmente diferentes. Em cada curva ou reta nova. Novo, é nova cada forma “repetida”, e essa linha que só finda ao final da teimosa linha do caderno. A linha do caderno é feia quer sempre um quase, um quase e fim. As formas que por autoridade me obrigavam a reproduzir na infância é uma linha sem fim, um fim.
Idiota, idiota. A linha do caderno quer limitar a livre-linha minha.
Deter o foco. Alienar-me de tudo mais que existe. Satisfazer a vontade que quase grita: De um quero. Sei não o que, só sei querer. Assim, assim apenas. Intrigante. Sacia mais e mais que o antes que era, sim, normal e tão cheio de muitas coisas, cheios de tudo-nada.
Vai alem, mais do que ver ou ler um complexo conteúdo filosofal ou qualquer coisa gorda e cheia de palavras suculentas-a-venda.
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