quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Primavera, folhas e chuva


Numa tarde. Primavera. Tudo pode ser.
Eu quis ficar sozinho. Não deixaram. Tragaram meu ser. Entrelaçaram os tímpanos de meus ouvidos, entraram nele. Fizeram sua musica, seus acordes sem acordos, suas corecordes.

O olhar sempre me é tão importante. Quis não ser. Mudo, fez, ficou calado. As pálpebras como se fossem chuva que encontra a terra, abrupta se agarram. Seus corpos; um corpo naquele instante. Penetrando para não ver. Para apenas calar a voz. Sentir... Ser.

São tão românticos meus ouvidos. Galantes acordaram as pálpebras. Dançar. Fundir corpos é sempre mais excitante.
Meus olhos tentaram abraçar no ar cada movimento. Suas assas batiam e eu nunca os via, apenas suas assas beijando-se por entre as árvores. Os pássaros brincavam de pega-pega. Seus corpos se misturavam. Parecia um ritual acasalamte. Havia um circulo formado por suas assas no céu, seus corpos de assas giravam um sobre o outro, sobre eles mesmos.

Agora as gostas da chuva. Chove, e em tudo cria um som ritmado que quebra o ritmado. O crash inusitado desalinha o tempo. A gota corre ligeiramente sumindo no espaço; aparece deitada sobre a folha dos arbustos. Uma flor movimenta todo seu corpo a cada beijo que o vento rouba-lhe.

Não suporto estar na bolha. Sem que houvesse vontade o desejo rompe a atmosfera, a atmosfera rompe o espaço e o instante. Cola o corpo a árvore. O corpo é a árvore. Árvore-corpo... Árvore.
Os ramos dos galhos rolam sobre as curvas do rosto. Meus pés são raízes, meus braços galhos e troncos. Eu sou a árvore que olhava a árvore que me agarrou todo, enfiou suas raízes em minhas veias. Cada gota agora explodiu em minhas folhas.
Crash na árvore, no corpo, na folha, na terra. Raízes me tragam, me come a terra, mergulha os pés.
Vê-se apenas um ser. Árvore.

A baba

O mundo a girar, rodopiar sobre minha cabeça. E de todas as coisas entendo quase baba. A baba me basta, assim é melhor. Baba é infinito. Na Baba nunca há baba.
Percorro tantas vezes dizendo quando me perguntam – o que foi? – respondo – baba -. Prefiro então caracterizar a baba como tudo. Quase sempre quando fico calado boca, gritando coração. Digo não é baba.
O tímido grito meu não gosta muito, mas veste a baba. E como se fosse a vontade de explodir, explodi então baba. Silenciosa muda, quase muda rompe o espaço da caveira da alma. E sempre expressa tudo.
É tão bonitinho ela parece uma bailarina tímida que sobe na sapatilha e dança no escuro. Bem que gosta de cair, sentir o chão. Alucina-se e, quase sempre o final do espetáculo vomita cores coloridas-dançantes. O vermelho sempre convida a rosa para dançar. A baba convida palavras, flores, luzes e sons... quer o colo das flores, das borboletas. Das borboletas pinturas de flores com asas. ( As borboletas são flores que tem asas!)
Dança desequilibrada num ritmo próprio conduzido pelo espaço vazio de palavras. No seu desequilibro mantém raízes que trepam, alcançam borboletas, fadas, rosas. Canta seu hino, todas sem vocabulário são concebidas. E o signo de sons é um dialeto único inexistente. Diz sem dizer. Baba.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Bolhas coloridas


Sentir o bater das asas em meio ao vôo, sentir que suas assas quase não existem , e que apenas é certa a existência do vento , do ar entrando no meu peito e transpassando pelo meu corpo todo.
Não a nada que chegue a cutucar, ainda que seja de longe, a liberdade. A liberdade de ser, fazer, estar... De ser.
Aquela inquietante presença de algo que não conseguimos identificar , mas e apenas sentimos incrustada no nosso corpo. E essa coisa-algo indizível esta muito alem de nossa compreensão e sempre estará , se acaso diferente fosse não mais ela seria. Talvez essa impossível compreensão a torne mágica. Sim a liberdade é mágica! Não propriamente o estado de nos sentirmos aptos e livres para fazermos o que nos der à telha , não , não me refiro a essa "liberdade”. É outra coisa , é algo que é... alucinante e perde-se no estado de ser de não saber o que é aquilo dentro do seu corpo dentro de você e, não é controlado pelo cérebro seu corpo é o controle e agora quando concebe o desconhecido em ti.O antes vira irrelevante, e a mente não detem comando , não , cada parte , cada organismo é único e responsável pela sensação .
Bolhas coloridas dançam no ar e só quer o agora ser belo e que seja ridículo o ridículo.
E tudo que foi belo no instante passado, mora. Nascendo novas raízes irreconhecíveis. Nesta ciranda-cirandinha o desconhecido dança por completo com o ser magnífico e brilhando a cores. Assim.... Ah liberdade. Confusa? Talvez seja, nem tudo deve ser entendido nem quero. Se tiver maçã quero pêra e da pêra maçã. O gosto nem consigo separar, ainda bem.