terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Faz frio


Partes do passado( fragmentos antigos)

A brisa nas ruas de São Paulo é de congelar os rostos. Pela manha pessoas saem ao trabalho, algumas de carro, umas de ônibus outras em táxi-sola mesmo. As que estão nos seus carros encontram algum conforto em seus ares-condicionados; aquelas do ônibus se espremem no transporte lotado e fecham os vidros para tentar amenizar o frio , inútil. E, as táxi-sola congelam a cada passo nas calçadas. Realmente o inverno não é bem quisto por todos os paulistas.
A temperatura baixa e as poucas chuvas e chuviscos fazem do inverno, para muitos, uma estação desgostosa em São Paulo. Mas, as tardezinhas frias ficam mais quentes com um cineminha ou chocolate quente debaixo das cobertas vendo um bom filminho - daqueles de casinha da seção-da-tarde. Ahmm, muito melhor principalmente se na companhia da namorada (o). O inverno concebido deste modo fica muito mais gostoso.
E que história é essa de o frio ser chato para se vestir? Nesta época do ano as pessoas ficam mais elegantes, formosas. Ainda com todas essas delicias que só o inverno propicia, sua típica temperatura o faz ser mal-amado por muitos. E podem dizer sobre tudo, ´´- o inverno é frio -``.
Anda-se nas ruas e em qualquer esquina o vento gelado passa correndo, parece cortar a pele...
Mas o frio que me congela, por vezes, e também a outros não é climático. Caminham em avenidas, bairros, favelas, em todo lugar é frio. No casaram com lareira ou aquecedor, é frio. No carro blindado de vidros fume se esconde uma pessoa, alguém que não quer ser tocada por ninguém, alguém que fecha os vidros para que não o vejam nem venham lhe incomodar pedindo esmolas; esse também tem frio igual àqueles ditos indigentes, deitados nas paredes cheirando a mijo do viaduto. As centenas de milhares de pessoas caminhando, paradas, sentadas, deitadas... Tem frio. Algo esta mais gelado do que o vento que bate nos corpos. E não é o inverno.
O caminhar é trocado pelo correr desesperado sempre com medo de perder a hora de algo (o banco que fecha as 4 da tarde, as compras que precisam ser feitas?). Não são as horas que estão se perdendo nem os ponteiros do relógio. Nossa vida os instantes de segundos únicos, as horas, meses , dias anos ; que mão sorrateira ingrata nos roubou?
O respirar é fraco sem força , desanimo. Os olhos abrem e “não se vê nada”. Nada. As mãos frias congelam com medo do toque, os braços, a nuca, o rosto. Todo corpo e ser quer ser casca, apenas carapaça. A crueldade nos assola, não é o inverno que congela-nos, são nossos corações. Petrificados, nossa alma repele o outro. Sombras que como eu caminham perdidas, inconscientemente tenta agarrar o toque . Você não a vê ela não a vê ela não te vê , não se vêem.Olhares, a fome e suplica de contato.
Às vezes esbarrar em outro alguém que passa na rua, só para sentir o toque, por mais bruto, estranho-cortado que pareça. Ah, um ombro roubado.
Se os ouvidos fecharem os olhos, será que se escutam gritos chamando, escorrendo lágrimas sozinhas?

Um comentário:

  1. Vc ja sabe que essa sua prosa é a mais redondinha, mesmo eu vendo isso como uma coisa ruim , sua prosa é interessante por mostrar um Caio menos pra dentro e mais mais pra fora . Sei lá .
    Gosto disso .

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